Esteróides anabolizantes são hormônios sintéticos com ação semelhante à testosterona (produzida pelos testículos e pela glândula adrenal). Sua produção sintética começou em 1935 e seu uso foi mudando ao longo do tempo. Na 2ª Guerra Mundial foi administrada a soldados alemães para aumentar sua agressividade. Na década de 50 foi utilizada por halterofilistas em competições de levantamento de peso e a partir dos anos 70 atletas começaram tentar melhorar sua performance com estas substâncias. Na década de 80 o uso foi proibido para atletas e no final da década de 90 começou haver obrigatoriedade do controle das prescrições. Entretanto, ainda existem muitos anabolizantes sendo comercializados como suplementos nutricionais para fugir das restrições da lei e por isso deve-se prestar muita atenção nos componentes das substâncias adquiridas com determinadas finalidades.

Os esteróides anabolizantes (EA) penetram nas células e ligam-se a receptores de esteroides, penetrando no núcleo celular e ligando-se à cromatina, estimulando então a produção de RNA mensageiros (sinalizadores celulares) que estimulam a produção de proteínas específicas que levam a: 1)retenção de nitrogênio e maior aproveitamento dos aminoácidos, 2) aumento da síntese de proteínas que compõem os músculos estriados, 3) inibição da degradação de proteínas, 4) aumento da deposição de cálcio nos ossos, 5) redução do catabolismo, levando a ganho de peso às custas principalmente de massa muscular. Ocorre também aumento dos glóbulos vermelhos (policitemia).

Quando em grandes quantidades, parte dos EA convertem-se em estrogênio com consequências como crescimento de mamas.

De acordo com a faixa etária os EA exercem diferentes ações no corpo:

Puberdade: crescimento do pênis e testículos, fusão da epífise óssea com interrupção do crescimento.

Na adolescência e na fase adulta, seu uso prolongado produz no homem redução dos testículos, redução da produção de testosterona (impotência) e de espermatozóides (infertilidade), aumento da próstata crescimento das mamas (ginecomastia), calvice. Nas mulheres pode provocar crescimento de pelo, alterações do ciclo menstrual, aumento do clitóris, voz grossa e redução das mamas.

Os EA podem levar a dependência química, agressividade, ciúme patológico, irritabilidade, ilusões, distração, alterações da libido para mais ou para menos, euforia.

Estes efeitos são utilizados como tratamento de determinadas situações com: necessidade de ganho de peso em portadores de SIDA, tratamento da dor óssea, reversão do catabolismo pelo uso de corticoides, tratamento de anemia grave, angioedema e câncer metastático de mama.

Cerca de 5% dos adolescentes têm feito uso de EA, a grande maioria do sexo masculino, 70% deles procurando efeitos estéticos. Depois das drogas ilícitas (maconha, cocaína, crack) e das lícitas (fumo, álcool, anorexígenos e sedativos), os EA estão se tornando um problema crescente entre os jovens.

O uso abusivo (em quantidade ou tempo) de EA pode produzir sinais e sintomas como: tremores, acne, retenção de líquidos, dores articulares, elevação da PA, redução do colesterol HDL e aumento do LDL com aumento do risco de doenças coronarianas, aumento das lesões de tendões que não suportam o aumento da massa muscular, necrose de cabeça do fêmur, policitemias (aumento dos glóbulos vermelhos), hiperglicemias (diabetes), aumento do coração e risco de arritmias, alterações do humor, agitação, aumento da próstata e do risco de câncer de próstata, além de doenças hepáticas que mostraremos a seguir.

Quase todos os esteroides anabolizantes causam lesões no fígado.

O fígado é o maior órgão do corpo, com mais de 500 funções bem conhecidas e importantes ao corpo, entre elas armazenar e metabolizar vitaminas, síntese de proteínas plasmáticas, detoxificação de toxinas químicas orgânicas ou externas, filtragem de bactérias, controle do equilíbrio hidrossalino e ácido-básico, síntese de colesterol e sais biliares.

Qualquer droga ingerida por via oral, retal ou parenteral, passa pelo fígado e deve-se lembrar que mesmo as medicações, “em doses terapêuticas corretas são remédios, em doses baixas não funcionam e em doses altas são tóxicos (venenos !!!)”.

Os EA 17-alfaquelados são de metabolização mais difícil e portanto mais tóxicos: oximetolona, stanozolol, methandrostenolona, metiltestosteronona e, em menor grau, oxandrolona.

Os EA mais conhecidos são o GH (hormônio de crescimento), oxandrolona e acetato de megestrol (progesterona), sendo o mais potente e mais tolerado a oxandrolona.

A lesão produzida pelos EA no fígado ocorre pela ação de substâncias oxidantes e redução das antioxidantes que levam a lesões dos hepatócitos com redução da excreção biliar e retenção da bile (colestase). O aumento da hidrolase lipossomal e a redução do sistema microssomal de metabolismo de drogas, reduz a atividade mitocondrial e aumenta a exposição celular a substâncias oxidantes que levam a apoptose (morte celular). As consequências podem também ser esteatose (gordura no fígado), distúrbios da coagulação, alterações nos níveis de colesterol fazendo predominar o LDL (colesterol “ruim”) sobre o HDL (colesterol “bom”), hipertensão, diabetes, todas estas situações que necessitam controle clínico e podem afetar o fígado.

O uso prolongado, acima de 24 meses, está associado ao aparecimento ou crescimento de adenomas (tumores benignos hipervascularizados do fígado) que podem ser confundidos ou mesmo sofrerem degeneração e transformarem-se em hepatocarcinomas (tumores malignos do fígado). Mesmo em períodos mais curtos, acima de 6 meses, pode ocorrer poliose hepática (necrose com formação de bolhas preenchidas por sangue) ou hiperplasia nodular regenerativa (que evoluiu com consequências semelhantes às das doenças crônicas do fígado).

A evolução da lesão hepática é silenciosa e pode ser detectada pelo aumento das enzimas hepáticas ou colestase, verificados por exames de sangue comumente utilizados na investigação do fígado ou esteatose ou nódulos verificados ao ultrassom.

Os EA não devem ser confundidos com suplementos nutricionais em cujas fórmulas existem aminoácidos, carboidratos e energéticos (cafeína, guaraná e outros) mas não contém hormônios.

O uso de EA deve ser feito sempre com acompanhamento médico e seu melhor efeito é obtido com atividades físicas e dietas controladas, além de exames médicos, laboratoriais e de imagem (ultrassom) periódicos.

Recomenda-se evitar simultaneamente, alimentos ricos em ferro (carne vermelha), vitamina A, frituras, gorduras, condimentos, álcool. Outras ervas tóxicas são equinácea, valerina e sacaca e medicações que conhecidamente podem causar lesões hepáticas são antidepressivos, bupropiona, fenitoína e paracetamol.

Deve-se aumentar, na rotina alimentar, a ingesta de protetores como proteínas vegetais (soja), peixe, frutas, cereais, verduras, legumes. Destaca-se entre eles alecrim, alfafa, abacate, abacaxi, boldo (chá) e chá verde.

Os chamados protetores hepáticos mais conhecidos, e que estão presentes nos alimentos protetores acima, são:

Silimarina, alcachofra, ác graxos ômega 3 e óleo de prímula, aminoácidos (metionina, cisteína e glutamina) e antioxidantes (vitamina E, selênio e ác alfa lipóico).

O uso injetável de EA pode trazer as mesmas consequências, além da transmissão de doenças pela utilização inadequada de seringas como hepatite B, hepatite C, HIV.