Até há pouco tempo, a cirurgia do fígado era um grande tabu, relacionada freqüentemente a grandes incisões, sangramentos com necessidades de transfusões sangüíneas, permanência em UTI por vários dias e risco de morte acima das outras cirurgias abdominais.

As doenças próprias do fígado cresceram em incidência, principalmente pelo crescimento das hepatites virais, aumento do uso de hormônios e obesidade endêmica, situações presentes em milhões de pessoas que predispõem à ocorrência de doenças crônicas do fígado e com elas o desenvolvimento de tumores benignos ou malignos que freqüentemente devem ser tratados cirurgicamente. Além disso, o fígado é também local freqüente da implantação de metástases, que são implantes de células cancerígenas provenientes de outros órgãos, cujos tratamentos mais eficazes também são a ressecção cirúrgica.

A partir de vários avanços como melhor conhecimento anatômico do fígado, domínio do controle das pressões dentro dos vasos sangüíneos e da coagulação por novas drogas e técnicas anestésicas, desenvolvimento de equipamentos de energia de alta tecnologia tornando mais seguros o corte e coagulação de vasos e tecidos, a cirurgia do fígado avançou para um patamar nunca antes imaginado e, o que antes se fazia com cortes enormes de 30 a 40 cm, atualmente se faz com pequenas incisões de 1 a 3 cm, através de técnicas modernas de cirurgia laparoscópica.

As vantagens da cirurgia laparoscópica sobre as cirurgias chamadas convencionais ou abertas são inquestionáveis. Além do aspecto estético, menos dor, tempo mais rápido de recuperação e retorno às atividades já estão bem estabelecidos. Entretanto, a segurança do paciente só pode ser garantida quando o cirurgião já possui formação prévia, experiência e bons resultados com a cirurgia aberta, uma vez que sempre existirá o risco de conversão, ou seja, de que a cirurgia laparoscópica, por uma questão de risco, transforme-se numa cirurgia aberta, apesar de esta situação ser cada vez mais rara.

Estão praticamente padronizadas e consensualmente indicadas ressecções laparoscópicas àquelas realizadas para doenças localizadas nos segmentos 2, 3, 5 e 6. Nestas situações, um ou dois destes segmentos podem ser removidos isolada ou conjuntamente. Doenças mais avançadas, que necessitam ressecções maiores, também podem ser tratadas pela técnica laparoscópica com bons resultados.

Em relação à cirurgia do pâncreas, em várias situações, partes do órgão precisam ser removidas, pelo risco ou pela presença de câncer ou de lesões benignas que expõe a algum tipo de risco, inclusive aparecimento de tumores malignos. Nestas situações, também estão padronizadas as técnicas laparoscópicas de ressecções do corpo e cauda do órgão, mas, quando a doença situa-se na cabeça do pâncreas, a abordagem aberta (convencional) ainda é a mais utilizada.

Cirurgias do fígado e pâncreas exigem formação adicional ao cirurgião geral ou do aparelho digestivo, pela sua complexidade desde o diagnóstico, indicação cirúrgica adequada e segurança no ato cirúrgico e no pós-operatório.