Martijn P.D. Haring e cols
University of Groningen
HPB 2021 , 23 , 1152 – 1163
Adenomas hepatocelulares (HCA) são tumores benignos e raros do fígado, que podem complicar com sangramento e transformação maligna., relacionadas geralmente a tumores ≥ 5 cm.
Seu crescimento poe ser estimulado por estrógeno, endógeno (por ex do tec adiposo) ou exógeno. Assim, obesidade ou perda de peso e uso crônico de contraceptivos orais (ACO) podem levar a um aumento ou regressão do HCA.
HCA são classificados em em subtipos conforme sua análise molecular ou imunohistoquimica :
Inflamatório (40 a 55%)
Hepatocítico (HNF1A – 30 a 40%)
Ativação da Betacatenina (10%)
Não identificado
A gravidez pode levar ao crescimento dos adenomas e o tratamento é controverso nestas situações.
Este estudo fez revisão sistemática da literature sobre o manuseio dos HCA nas gestações.
Entre uma corte de 332 pacientes, 11 foram identificados antes ou durante gestação.
Todos tinham histórico de uso de ACO.
Idade media : 26 anos (25 a 30)
Dois apresentavam adenomatose (> 10 HCA)
5 apresentavam subtipo Inflamatório
O tamanho médio foi de 2,7 cm no diagnóstico
4 tinham diâmetro > 5 cm e permaneceram estáveis durante a gestação
2 cresceram durante a gestação, ambos < 5 cm
Após o parto, 6 permaneceram estáveis e 5 regrediram, 2 completamente.
Nenhuma hemorragia foi observada num seguimento de 34 meses
Nenhum tratamento foi realizado.
Revisão Sistemática
28 relatos ou series de casos foram identificados envolvendo 90 pacientes e 99 gestações
92% tinham histórico de uso de ACO
HCA permaneceram estáveis em 53% das gestações , 15% tiveram regressão e 31% apresentaram crescimento.
Apenas 1 entre 18 apresentou crescimento pós-parto e os demais apresentaram estabilidade ou regressão
Entre HCA < 5 cm , 25% apresentaram crescimento, nos segundo e terceiro trimestres.
15 sangramentos foram observados em HCA variando de 6,5 a 17 cm, sendo 8 durante as gestações (7 no terceiro trimester), dois no parto e 5 pós-parto (4 nas primeiras duas semanas). Em todos o sangramento foi o primeiro sintoma.
3 pacientes faleceram antes de qualquer tratamento e 10 dos 12 restantes foram tratados com sucesso :
4 contenção do sangramento , seguida de ressecção em 2 ou transplante de fígado em 1, com 1 caso evoluindo a óbito antes da segunda cirurgia
6 foram ressecados , 1 fez embolização arterial e 1 hepatorrafia
Houveram 5 óbitos entre os 15.
Entre 3 biópsias realizadas, 1 apresentou sangramento grave
17 pacientes foram submetidos a procedimentos invasivos :
3 eletroporações
9 ressecções , 6 durante a gestação (dois por crescimento e 4 por HCA > 5 cm)
1 radioablação
Discussão
Estudo retrospectivo com 11 pacientes , dos quais 4 tinham HCA > 5 cm
Em 2 pacientes houve crescimento durante a gestação, ambos com HCA < 5 cm
Na Revisão Sistemática envolvendo 29 estudos, 99 gestações com HCA foram avaliadas, com estabilidade dos HCA em 53%, regressão em 15%, e crescimento em 31%. Houve 15 hemorragias , todos medindo > 6,5 cm.
As recomendações após esta revisão são :
1) manuseio individualizado realizado por equipe multidisciplinar . Estudo observacional de 51 gestantes com HCA < 5 cm (média 2,3 cm) não apresentou sangramentos. Nesta revisão, apenas HCA > 6,5 cm sangraram. HCA merecem seguimento a cada 6 semanas durante as gestações ;
2) Tratamentos percutâneos são indicados em sangramentos pequenos, intratumorais, no primeiro ou segundo trimester e cirurgias são indicadas quando ocorrem sangramentos intra-abdominais e principalmente no terceiro trimestre. Tratamentos devem ser realizados pré-gestação em HCA > 6,5 cm ;
3) Biópsia ou RNM com contraste são indicados na suspeita de malignidade;
4) Tratamento preventivo não deve ser indicado
Conclusão
A maioria dos HCA não demonstram complicações relacionadas a gestação. Sangramentos foram observados em HCA > 6,5 cm.