1) Defeitos familiares na função de excreção da bile

A) Síndrome de Dubin-Johnson (SDJ)

Caracterizada por hiperbilirrubinemia conjugada leve levando a concentrações totais médias de 2 a 5 mg/dl flutuando entre valores normais a 20 a 25 mg/dl. Demais exames bioquímicos são normais, exame físico é normal exceto por icterícia e alguns pacientes podem ter hepatoesplenomegalia.

Os níveis de hiperbilirrubinemia podem ser aumentados por uso de anticoncepcionais orais, gestação. Ocorre bilirrubinúria (colúria).

A maioria dos pacientes são assintomáticos e investigados desnecessariamente por icterícia inexplicada. Não há prurido.

A excreção biliar de uma série de componentes está comprometida, incluindo agentes colecistográficos (contrastes), bromosulfaleína. A vesícula biliar normalmente não é visualizada após contraste oral. Outros com Verde-Indocianina são captados nos hepatócitos e não são metabolizados antes da excreção e portanto não servem para diagnóstico.

Existe acúmulo de pigmentos granulares, escuros no lisossomos dos hepatócitos centrolobulares, derivados de metabolitos não excretados.

A proporção de excreção de coproporfirina urinária sugere o diagnóstico. Normalmente existem dois isômeros da coproporfirina, o I e o III e 75% na urina é o III. Em pacientes com SDJ, a coproporfirina total na urina é normal mas > 80% é isômero tipo I.

B) Síndrome Rotor (SR)

Distúrbio autossômico recessivo benigno semelhante à SDJ.

Difere da SDJ por:

1) fígado ser normal, sem pigmentos escuros;

2) Vesícula biliar contrasta após colecistograma oral;

3) Coproporfirina urinária é aumentada e a proporção de isômero I é < 70%.

C) Colestase Intrahepática Recorrente Benigna (BRIC)

Distúrbio raro, autossômico recessivo, familiar, benigno que não leva a cirrose.

Caracterizada por episódios recorrentes de icterícia e prurido que podem ser longos debilitantes, o que leva alguns pacientes a submeterem-se a transplante de fígado para tratamento dos sintomas.

Os episódios iniciam-se com fraqueza seguida de aumento de transaminases, fosfatase alcalina, bilirrubina conjugada, icterícia e prurido. Os primeiros episódios podem ser confundidos com hepatites agudas. Os episódios de colestase podem durar semanas ou meses, seguidos de completa normalização clínica e bioquímica. O intervalo entre os episódios podem variar de meses a anos e entre eles o exame físico assim como a bioquímica é normal.

O tratamento é feito com sintomáticos, não havendo prevenção ou forma de encurtar os episódios.

d) Colestase Familiar Intrahepática Progressiva

Tipo 1 (Byler) – começa na infância e progride para desnutrição, retardo do crescimento e insuficiência hepática. Decorrente de mutação da proteína FIC1;

Tipo 2 – mutação da proteína irmã da p-glicoproteína, evolução semelhante ao BRIC;

Tipo 3 – mutação da proteína MDR3. Apresenta elevados níveis de gamaglutamiltransferase.