Aproximadamente 50% dos cirróticos apresentam Na+ sérico abaixo dos níveis normais (135 a 145 mmol/L).

Considera-se hiponatremia nos cirróticos, valores de Na+ abaixo de 130 mEq/L e resulta da retenção de água promovida pela secreção de hormônio antidiurético (HAD) apesar da quantidade corpórea de Na+ aumentada nestes pacientes.

Hiponatremia está associada a descompensações da cirrose, entre elas infecções bacterianas, ascite, insuficiência renal, encefalopatia, piora da qualidade de vida e piora a sobrevida dos pacientes cirróticos em lista de espera para transplante, independentemente de outros fatores de risco ou do MELD.

O transplante de fígado (TF) rapidamente restabelece o equilíbrio do Na+ na grande maioria dos pacientes. Hiponatremias graves (Na+ < 125 mmol/L) devem ser corrigidas com cuidado pelo risco de mielinólise pontina, um tipo de lesão cerebral que levar a sequelas irreversíveis. Hipernatremia é um distúrbio menos comum do Na+, associada a elevadas taxas de mortalidade em cirróticos, pacientes renais crônicos, cardiopatas com insuficiência cardíaca, pacientes em terapia intensiva e idosos. Estudo dos registros americanos investigou, entre 47.254 pacientes transplantados entre 2003 e 2010, a influência do Na+ pré-operatório na evolução pós-operatória após transplante de fígado. Considerou-se hiponatremia Na+ < 130 e hipernatremia Na+ > 145.

13% (2548) eram hiponatrêmicos e 2,4% (464) eram hipernatrêmicos, sendo o MELD médio no momento do transplante igual a 22.

Pacientes com hipo ou hipernatremia apresentavam mais ascite que pacientes com normonatremia.

Pacientes com hiponatremia apresentavam mais encefalopatia.

Os MELDs eram maiores nos pacientes com hipernatremia, seguidos do grupo com hiponatremia e do grupo com Na+ normal.

As taxas de sobrevida 90 dias após o transplante foram:

Normonatremia: 94% (MELD médio 21)

Hiponatremia: 94,7% (MELD médio 25)

Hipernatremia: 86% (MELD médio 29)

Cada unidade de Na+ acima de 145 aumentou em 13% a mortalidade após transplante, independentemente da idade, raça, sexo, ascite, encefalopatia, diálise, suporte em UTI e MELD.

Estudo do Reino Unido com 5152 pacientes mostrou aumento de 55% na mortalidade dos pacientes com hiponatremia em relação a pacientes com normonatremia e estudo espanhol unicêntrico com 241 pacientes também observou aumento da mortalidade em 90 dias, que foi de 16% quando o Na+ era menor que 130 mEq/L comparada a 5% em pacientes com normonatremia.

Algumas explicações para estas diferenças de resultados são doadores melhores e maior número de doenças colestáticas nos normonatrêmicos dos estudos europeus.

Pacientes com hipernatremia geralmente estão em suporte de terapia intensiva e têm múltiplos fatores desencadeantes, entre eles perda insensível de água livre, aspiração pela SNG, diuréticos de alça, sangramento gastrointestinal e nutrição parenteral. Lactulona e diurese osmótica de origem renal também são causas presentes e todas mostram tratarem-se de pacientes graves e descompensados da hepatopatia.

Diferentemente da hiponatremia, estudos europeus também confirmam aumento de 2 a 3 x na mortalidade dos pacientes previamente hipernatrêmicos (Na+ > 145 mEq/L).

Conclui-se que a hiponatremia, apesar de ser um marcador de mortalidade em lista de espera, não relaciona-se a aumento da mortalidade após transplante. Entretanto, hipernatremia, além de ser um marcador de gravidade da hepatopatia, também está relacionada a aumento da mortalidade apos transplante.

Liver Transplantation junho 2014