Hepatite Alcoólica Aguda (HAA) é uma síndrome clínica caracterizada por icterícia, ascite, hipoalbuminemia, hiperbilirrubinemia, aumento do tempo de protrombina e aumento das transaminases. Geralmente apresenta-se com fadiga, anorexia, náuseas e elevação dos neutrófilos.

A gravidade da HAA é definida pelo escore de Maddrey > 32 e está associada a elevada mortalidade. O tratamento com corticoides é controverso com alguns estudos mostrando redução da mortalidade enquanto outros mostram pequeno ou nenhum efeito na sobrevida. Pacientes não respondedores apresentam mortalidade em 6 meses em torno de 75%.

Em 2011, Mathurin e cols publicaram resultados de transplante hepático (TH) em 26 pacientes com HAA. Todos os pacientes preenchiam 4 critérios: 1) primeiro episódio, 2) sem resposta a corticoides, 3) excelente suporte psicossocial, 4) consenso entre todos os profissionais envolvidos. A sobrevida deste grupo em 6 meses foi de 77% comparados a 23% de grupo controle histórico não transplantado, sem nenhum caso de recidiva do alcoolismo neste período embora 3 (11,5%) retornaram a ingerir álcool após. Este índice de recidiva do alcoolismo é semelhante ao dos pacientes com cirrose alcoólica (CA) transplantados que ficaram pelo menos 6 meses abstinentes antes do transplante.

Dados parecidos foram publicados por Im e cols (2016) em 9 pacientes com características semelhantes transplantados e sobrevida de 6 meses de 89% x 11% não transplantados e recidiva do alcoolismo em apenas 1 caso.

Lee e cols (2017) comparou TH em 17 pacientes com HAA x 26 com CA com 6 meses da abstinência. Obteve sobrevida de 6 m de 100% no grupo HAA x 89% no grupo CA sendo a recidiva do alcoolismo semelhante nos dois grupos e respectivamente 23,5% x 29,5%. Quando considerada recidiva alcoólica intensa, os resultados foram 23,5% HAA x 11,55 CA (p=0,42).

Na Universidade de Pádua o programa de TH em HAA foi iniciado em 2013 sendo avaliados 9 pacientes dos quais 5 preencheram critérios, 4 foram transplantados e estão vivos após 17 meses de seguimento médio sem recidiva do alcoolismo. Dos 4 excluídos, dois faleceram em 28 dias e dois estão vivos.

Os autores concluem que HAA com critérios restritos podem ser beneficiados por TH.

Patricia Burra e Giacomo Germani – Universidade de Pádua – Itália CLD junho 2017