O transplante de fígado é o melhor tratamento para pacientes cirróticos portadores de hepatocarcinoma (HCC). Entretanto, mesmo dentro dos Critérios de Milão, a recorrência do HCC é a principal causa de morbidade e mortalidade destes pacientes nos médio e longo prazos.

mTOR é uma proteína envolvida no crescimento e proliferação celular.

Da mesma forma que inibidores da mTOR podem ser utilizados como imunossupressores, evitando a proliferação dos linfócitos responsáveis pela rejeição, também podem inibir a hiperativação desta proteína que está presente nas células malignas, bloqueando seu crescimento.

Em 2002, um estudo randomizado mostro maior índice de rejeição, trombose de artéria, perda dos enxerto e morte nos transplantados de fígado que utilizavam sirolimus. Entretanto, desde essa época, esses resultados não têm sido reproduzidos e os resultados de estudos retrospectivos têm revelado resultados semelhantes com menos efeitos adversos em pacientes sob imunossupressão com inibidores da mTOR.

Foram avaliados retrospectivamente os dados do Registro Americano de Transplantes. Entre 13991 transplantes registrados neste período, 3936 eram portadores de HCC e, destes, 234 receberam sirolimus (SRL), que é um inibidor da mTOR.

Comparados aos que não receberam SRL, os que receberam apresentavam maior gravidade (MELD) e tinham mais tumores que excediam os Critérios de Milão (11% vs 5%).

Não houve diferença na mortalidade entre os grupos que utilizaram e não utilizaram SRL.

Entretanto, as causas de mortalidade relacionadas ao HCC assim como a recorrência do HCC foi menor no grupo com SRL, principalmente nos pacientes com idade acima de 55 anos, apesar de não haver diferença estatisticamente significativa.

Nos pacientes mais jovens que 55 anos, houve aumento da mortalidade e da recorrência do HCC mas também não houve diferença estatisticamente significativa.

Este estudo não reproduziu os resultados de Toso e cols publicados em 2010 (Hepatology 2010; 51:1237-1243) que mostraram aumento da sobrevida dos pacientes transplantados portadores de HCC que utilizaram SRL na imunossupressão.

Recentemente, Geissler e cols publicou recente estudo randomizado (Transplantation 2016; 100:116-125) que mostrou benefícios do uso de SRL em transplantados por HCC mais jovens que 60 anos, contrastando de certa forma com o estudo atual cujos maiores benefícios ocorreram nos transplantados com idade acima de 55 anos.

Os resultados pouco impactantes do SRL podem ter algumas explicações tais como a dose de SRL utilizada no transplante que é bem inferior a utilizada com finalidade oncológica, a heterogeneidade da hiperativação da mTOR nas células do HCC e o desenvolvimento de resistência aos inibidores de mTOR.

Estudos moleculares dos portadores de HCC com hiperativação da mTOR mostrarão os pacientes que se beneficiarão desta alternativa de imunossupressão mas o uso em casos de recorrência talvez seja a alternativa mais aceita enquanto dados conclusivos não são publicados.

Liver Transplantation 22: 627-634, 2016.