Transplantes de Fígado com Doadores com Esteatose Hepática
Jackson e cols
Clinical Liver Disease 14(5):191-5 , 2019

Transplante de Fígado (TF) é principal tratamento para doenças crônicas terminais.
Entretanto, a desproporção entre necessidade e disponibilidade de doadores é muito grande. Por esse motivo, a recusa de doadores significa aumentar a mortalidade na lista de espera mas, por outro lado, aceitar fígados de doadores não ideais aumenta muito o risco de morte do receptor. Nesse dilema vive o transplantador de fígado.
Fígados esteatóticos entram nessa categoria de fígados não ideais, também chamados de fígados limítrofes ou marginais e são cada vez mais comuns com o aumento da obesidade na população.

A avaliação da esteatose é feita de duas formas :
1) macroscopia e palpação – aspecto geral, tamanho, consistência ;
2) compressão e observação – comprimindo e soltando o parênquima e observando a cor
3) biópsias – realizadas quando a impressão pela macroscopia e palpação é de esteatose inaceitável . Pode diferenciar entre micro e macroesteatose e além de quantificar o grau em pequeno , moderado ou intenso

Microesteatose verdadeira pode ocorrer em condições como Síndrome de Reye e esteatose aguda da gravidez , indicam lesão tecidual importante e raramente são aceitos para transplante.

Macroesteatose são comumente encontradas e são divididas em pequenos vacúolos, que não deslocam o núcleo e grandes vacúolos, que deslocam o núcleo cellular. Além disso, são quantificadas pelos patologistas como leve (<30%), moderada (30 a 60%) e intensa (> 60%).

A maioria dos estudos mostram evolução ruim dos órgãos com moderada ou intense esteatose. Numa avaliação do registro Americano, utilização de fígados com esteatose moderada foi associada a 71% de risco de não função ou mal função do enxerto quando comparados a fígados com menos de 15% de esteatose.

Algumas estratégias para melhorar os resultados com a utilização de enxertos gordurosos, são seleção criteriosa dos receptores :
1) receptores de baixo risco (BAR score < 9)
2) receptores com MELD < 24
3) idade < 60 anos
4) evitar hepatite fulminante
5) ausência de trombose de veia porta
6) não ser retransplante

Máquina de Perfusão

Recentes estudos estão demonstrando que máquinas de perfusão normotérmica de enxertos têm reduzido em 74% a incidência de disfunção dos enxertos e 50% o descarte de fígados limítrofes. Estudo recente mostrou redução de 38% dos triglicerídeos teciduais e 40% da esteatose macrovesicular após 6 h na máquina de perfusão normotérmica.
Apesar de ainda experimentais, representam um enorme potencial para redução do risco de utilização de fígados esteatóticos.

Conclusão

Fígados esteatóticos em doadores são cada vez mais comuns devido a obesidade na população.
Diferenciar micro de macroesteatose é muito importante na tomada de decisões sobre aproveitamento de enxertos.
Macroesteatoses > 30% têm sido associadas com maior risco de não função ou disfunção dos enxertos, mas esses dados não são consensuais.
A seleção rigorosa de receptores ou a utilização de máquinas de perfusão normotérmicas podem melhorar os resultados do aproveitamento de enxertos com esteatose.